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Última carta

Em tempos onde a globalização e a conectividade é dominante, falar em carta não passa de romantismo démodé. Se falar última então, a chance de vir algo piegas e depressivo é maior ainda.
Mas o que quero dizer é que falar dessas coisas não deveria doer tanto e é mais provável que o efeito colateral dessa insistência em pautar o assunto leve ao julgamento cômodo ou a associação de fraqueza por parte das pessoas. Nada mais normal, queremos respostas para tudo e rotular mais um, não faz diferença...quem se importa?

Na verdade eu me importo!
Me incomoda o fato de que generalizações estejam fazendo com que nossos valores estejam sujeitos ao massacre da indiferença. Discursos pró-desapego e que não passam de atalhos e tapinha nas costas de quem espera alívio imediato para as dores que vem do coração. Nunca na história da humanidade consumimos tantos remédios, ouvimos tantos conselhos fúteis e nos desgastamos tanto tendo como justificativa nossas frustradas relações interpessoais e amorosas.

Estou falando de pessoas que, diferentes de nós, vivem com base no "tem coisa melhor por aí", "ainda vou achar minha alma gêmea", "ainda posso ser mais feliz", de pessoas "que acabam rejeitando carinho porque sua liberdade precisa vir acompanhada da solidão". Nunca fui adepto dessa lógica fraca, fútil, inocente, infantil, limitada e egoísta!! Para mim, ela no máximo, é um anestésico para quem costuma apagar jantares, gestos, toques, aniversários e momentos de alegria a dois sob o pretexto de que isso é acessível, disponível em qualquer lugar por aí. Vou te falar que NÃO É, vou te falar ainda que normalmente se machuca muita gente procurando uma que seja capaz de "destrancar" sua melhor versão, sua versão livre de jogos de atração, consumo e mentira que representam a verdadeira maioria disponível no mercado.

Se você, entendeu o que estou dizendo, vai conseguir explicar muito do que acontece com você. Estou falando que basicamente as pessoas que mais pregam o desapego, ironicamente se apegam a uma história de amor que ainda vão viver e que culturalmente, dá pra chutar que, entre a idade de 16 e 30 anos ela (sendo otimista) jamais vai pensar que essa pessoa é você!!!! Isso pode doer em muita gente, mas aposto minha vida que isso não doeu tanto quanto o descarte que sofreram da pessoa que você se sentia mais a vontade de ser sincero, honesto ou você mesmo. Sim, essa pessoa você associa como a pessoa que você ama ou se importa muito!!! Se estou errado e diferenciando amor carnal de amor fraterno, me explique como você se sente com seus pais, irmãos,amigos e pessoas que realmente te conhecem e pretendem ter você na vida pelos próximos anos? 

É tão ingênuo pensar que não precisamos das pessoas, quanto esquecer que o lugar onde nascemos, vivemos, nos formamos, trabalhamos e queremos estar é provavelmente o lugar que você está hoje. E se sua cidade não for São Paulo, seu suposto leque de opções de alma gêmea (hahaha) esta restrito de a uma população menor que 11 milhões de pessoas, de 7 bilhões no mundo inteiro!! E como sabemos é pouco provável que você venha a conhecer pessoas de regiões muito distantes de onde você nasce, cresce, trabalha, viaja e se diverte.

A vida é curta, o mundo é vasto e acho que esse argumento serve mais para dizer que não adianta fugir de quem somos, estaremos nos enganando e nos machucando ainda mais. Uma relação de verdade é pura maturidade e noção de tempo presente!! Vale a pena SIM, resolver um mal entendido, conversar, alinhar expectativas, lutar pelo relacionamento. Não acredito 100% no casamento, mas acredito no aprender junto eternamente, no respeito, na cumplicidade, no redefinir o tesão. Acredito que ter a pessoa que ama do lado é viver coisas boas e difíceis (não ruins), superar problema e continuar junto, se adaptar e crescer junto, aproveitar e comemorar junto projetos de curto, médio e longo prazo, ir até o fim!! 

O texto ficou excepcionalmente longo mas o que está em jogo aqui são dois valores no qual estou disposto a gastar todo o meu português e toda minha paciência para defender: Essência e Lealdade!!
E esses valores tem como base a humildade de seguir em frente aprendendo e agindo de maneira madura e consciente. Também podem nos fazer viver experiências incríveis, viver relacionamentos únicos e mostrar nossa melhor versão para quem também acredita neles. 

Minha última carta é um desabafo e uma tentativa de afastar qualquer frieza e indiferença que eu possa estar vivendo. E isso significa que quando eu tiver que acreditar, estarei pronto para ser minha melhor versão de essência e lealdade que alguém merece conhecer. 

"Também é ser, deixar de ser assim."
 Cecília Meireles





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